About Me

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Lembranças



Ultimamente, minhas lembranças têm se transformado em imagens. Tu entendes? É como se estivessem entrando num arquivo, finalmente, depois de estarem correntes por tanto tempo. São como fotos agora, um acúmulo delas no fundo da minha mente. Só que, como fotos antigas, essas lembranças se perdem facilmente, porque, embora estejam guardadas, não sei exatamente onde. Com o tempo, também percebi que minha memória vai ficando mais seletiva e, sem aviso prévio, rigorosamente descarta algumas dessas fotos. Se tu soubesses o quanto tem sido difícil lembrar alguns nomes, alguns velhos rostos. Pergunto-me se tem sido igualmente penoso pra ti. Sim? Tua memória também tem te pregado peças, tu também te sentes como um jovem idoso? Saibas que algumas das tuas fotos já foram descartadas, não que eu tenha desejado assim. Pelo menos não conscientemente. Porque, pra ser bem franca, a gente nunca sabe quem domina, se é nossa vontade ou se é nosso inconsciente. Tenho um palpite, mas não te digo. 

Por mais que eu tente agarrar algumas dessas fotografias, não cabe a mim decidir por uma ou outra. Acredito que, por algum motivo que desconheço, elas se vão para o meu bem. Ouso arriscar a possibilidade de que eu terei alguns sofrimentos aliviados com algumas fotos a menos. Fotos de momentos que, um dia, foram felizes, mas que hoje só representam dor. Espero que tu concordes comigo, pois tu também fizeste parte de muitos deles. Agora eu te prometo fazer tentativas. Prometo tentar, com todas as minhas forças, esconder alguns dessas fotos num lugar seguro. Seguro na minha concepção. O fato é que existe algo bem maior do que as minhas convicções, algo que pode seguir meus passos e desvendar meus esconderijos. Mas, como eu te disse, prometo tentar proteger as fotos em que sorrimos e nos abraçamos, proferindo promessas de realizações questionáveis. Lembranças minhas, tuas, fotos de nós dois.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Vício Secreto


Mas, no fundo, por que escrever é meu vício secreto? 

Uma música. Um texto. Uma foto. Uma pessoa. Um sorriso. Uma folha. Um animal querido. Uma árvore. Um filme. Um cenário. Não, meu vício não faz distinção entre quem pode servir de inspiração ou não. Absolutamente tudo é válido. 


Um vício do qual não me envergonho, mas que preciso manter em segredo. Manter em segredo, sim, porque o tempo não para, como Cazuza quis deixar bem claro. Por muitas vezes, reservo o desejo de escrever para depois. Por quê? As pessoas perguntariam, mesmo a resposta sendo tão óbvia. Não há tempo suficiente. E, infelizmente, como todo vício, eu sofro por não poder satisfazê-lo assim que a tal coceirinha vem e incomoda. Às vezes, no ônibus, depois de ouvir, despropositadamente (às vezes não), a conversa alheia; depois de ver alguém subir, alguém que se destaca dentre todos os outros por um olhar, por um gesto, pela maneira de se mover; o vício também se manifesta na hora da leitura de algum livro da faculdade, esta que tem me proporcionado acesso à visão de pensadores renomados sobre pessoas. Sim, pessoas. Porque de que é feita a sociedade, senão de pessoas?

O ato de escrever por desejo, por hobbie, acumulou infinitas definições ao longo de sua existência. Para diferentes pessoas, diferentes definições. Para mim? Não sei bem. Como Carnelutti, admito não ser capaz de fornecer uma definição, mas me proponho a usar comparações, analogias descontraídas. Costumo pensa na missão de quem escreve como a de quem constrói a própria casa. É reunir o material, arregaçar as mangas e fazer o trabalho sujo, cansar e, ainda assim, prosseguir, por saber que, no final, vai ter valido a pena. Porque, no final, aquele lugar vai ter o seu toque, o seu suor, a sua marca. Por mais que, em alguns momentos, a construção tenha sido penosa, em outros, foi simplesmente maravilhosa. Também assim, escrever não é sempre fácil, mas também não é sempre difícil. Acredito, entretanto, que tal antítese seja essencial para que qualquer coisa valha a pena.




 

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Quem é Fernanda



Escolheram-me Fernanda. Sou uma estudante universitária de Direito e prosadora de gaveta, navegando, nas horas vagas, cheia de curiosidade, entre Psicologia, Arte e Astronomia, atraída pelo enlace irresistível das três. Nordestina, cresci sob o sol escaldante e junto ao litoral generoso de Fortaleza, minha cidade natal, com a qual nutro uma relação ainda em maturação, dividida entre o carinho e a constante dificuldade de identificação. Nunca aqui finquei raízes, pois tenho coração voltado para o mundo, enquanto os olhos varrem o céu. Apaixonada pelo convite à descoberta que toda viagem representa, carrego sempre a curiosidade como guia, sonhando com as intensas narrativas que natureza e ser humano, em sua inesgotável pluralidade, são capazes de conceber. 

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Para ti, sobre ti.

Se tu soubesses o quanto já escrevi sobre ti, teus trejeitos, teus diferentes risos. Talvez achasses graça de mim, um amante tão apaixonado, seguindo a sina de te amar como nunca antes experimentara amar. Somente para teus olhos, reservo inúmeros adjetivos, feitiços, tudo envolto na beleza que minhas palavras buscam reproduzir. Tu me olhaste certa vez com lascívia, torcendo o lábio, mordendo de leve, exatamente como quem sabe que é desejado. Escrevo para ti, sobre ti. Esperando apenas que recebas meus poemas tortos com o mesmo sorriso que neles falo.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Meu pai


Eu não me lembro bem quando chamei pela primeira vez. Segundo relatos, com poucos dentes, na minha preguiça incorrigível de falar, demorei, mas chamei: Cacai. Seja por um espírito revolucionário, seja por puro desprezo ao clichê primeiro 'papai', eu ainda demoraria a permitir as comemorações eufóricas de vocês dois. Até lá, aos trancos e barrancos, minha mãe ia me ensinando a maneira correta e esperava que eu compreendesse. No fundo, ela sabia que eu só tinha preguiça. É, de falar o certo. Com uma risada de quem conhece bem a filha que tem, ela já disse que, na realidade, eu achava risível todo o esforço das pessoas ao meu redor para me fazer falar as palavras corretamente.

Mas 'cacai' seria só o primeiro termo para o que viria a seguir, tão original e autêntico quanto o anterior: Meu pai. Daí a gente sabe bem de onde veio toda essa minha possessividade. Não é nada doentio, eu só não curto dividir quem eu amo com qualquer pessoa. 

Nunca me perdi - pelo menos não por muito tempo - porque, aparentemente, eu era a única criança chamando, aos berros, 'Meu pai!' ou 'Minha mãe!'. Vê só a inteligência prematura da garota. Enquanto todos os outros pequenos em apuros, perdidos, gritavam da mesma maneira, chamando por pais e mães que poderiam ser quaisquer outros, eu me fazia notar com esses termos tão meus. Ok, é brincadeira, eu nem sou vaidosa. Não tanto assim...

Meu pai. É engraçado que sejamos tão parecidos em tantos aspectos. Meio na sua, sem esbanjar, negando a efusividade por prezar a autenticidade em primeiro lugar, amando com a presença, mesmo em silêncio, e demonstrando da maneira que pode. Eu entendo, quero que saiba disso. Entendo, porque ajo da mesma maneira. Por vontade? Não, é só que é assim que nós somos. 

Então, não se esqueça, cacai, meu pai, que eu o amo muito. Não importa o quê, por quê, onde, quando. Eu o amo. Desde os primeiros até os últimos meses da minha vida.